Para alguém que não tem acesso, ou não convive escutar dois adolescentes conversando pode até parecer uma conversa em outro idioma. Pois traduzir com rapidez palavras e frases como “Já é”, “cabuloso” e “É nóis” é um pouco complicado. Ou quando se analisa uma conversa na internet, onde são lidos termos como “tbm”, “9dade”, “naum”, é difícil compreender que isso faz parte de uma linguagem comum. Para entender, pense em sua época de adolescente e de como era próprio de seu grupo algumas características como a linguagem.
O adolescente, em sua fase de transformação do corpo e transição para a vida adulta passa a questionar as coisas, “tenta entender a perspectiva do outro a comparando com a sociedade, analisando o ponto de vista geral, ou seja, busca conhecer as perspectivas da maioria da sociedade para saber o que é considerado por esta.” (SELMAN, 1982 apud SHAFFER, 2005). Assim o adolescente deixa de considerar os valores dos pais e da família e passa a buscar sua própria forma de pensar e agir. Vygotsky (REGO, 1995), ao analisar o desenvolvimento da linguagem na criança, diz que, ao adquirir o domínio da fala, a criança sofre mudanças, dentre elas o seu modo de se relacionar com o meio, pois tem acesso à novas formas de se comunicar com os outros, e a organização sua forma de pensar e agir. Podemos trazer isso para a adolescência, considerando que, ao se “desligar” da família, o adolescente busca o seu lugar na sociedade, e consegue isso através dos grupos, estes caracterizados por vestimentas, gostos, modos de pensar e pela linguagem, que tem por função principal o contato social.
Uma das características mais fortes dos grupos é a sua linguagem, que os diferencia de outros grupos e de toda a sociedade, o adolescente, ao perceber que para fazer parte do grupo tem que dominar esse tipo de linguagem, passa a mudar sua forma de agir e pensar, sendo influenciado pelos ideais e valores do grupo, construindo, assim, a cultura adolescente. Em outra visão, Stern (Vygotsky, 1987) aponta a intencionalidade da fala, refere-se a ela como ato de pensamento que denota intelectualização e objetivação da fala. Analisa-se isso na adolescência quando se percebe essa objetivação, ou seja, a fala tem um objetivo, uma intenção, no meio adolescente a fala tem um objetivo essencial que é distinguir os grupos entre si e no meio da sociedade.
Foram apresentados alguns conceitos teóricos relacionados à linguagem que é um dos principais elementos formadores da cultura adolescente, esta caracterizada pelas vestimentas, estilos musicais, alimentação, comportamento, grupos, escolhas e vocabulário. A cultura adolescente está focada no contato social, geralmente estabelecido em grupos que possuem suas próprias maneiras de agir, pensar e falar, sendo esse jeito próprio de falar as gírias, que variam em cada grupo e podem até serem disseminadas para uma parte da sociedade geral.
REFERÊNCIAS
REGO, T.C. Vygotsky: Uma perspectiva histórico-cultural da educação. 16.ed. Petrópolis: Vozes, 1995. p.64-69
SHAFFER, D.R. Psicologia do desenvolvimento. São Paulo: Cengage Learning,2005.p. 449.
VYGOTSKY, L.S. Pensamento e linguagem. Tradução de Jefferson Luiz Camargo. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1987 p. 65-101