A FAMÍLIA E A ADOLESCÊNCIA
AUTORES: DENISE, ELIÚDE, JEAN, MARCELLO, MICHELLE, VIVIAN.
Para se obter algum conhecimento acerca do ser humano é necessário compreender, antes de mais nada, suas amplas dimensões que, em conjunto, constituem o homem. Dimensões estas que abrangem a biologia, o social, o cultural, o temporal, as crenças políticas e religiosas, a história de vida, a psicologia.
O contexto no qual todo ser humano nasce e se desenvolve tem influências decisivas e permanentes no desarrolhar do seu desenvolvimento, seja ele fisiológico, psicológico, intelectual. Assim, o cenário no qual e a partir do qual atuamos desde nosso nascimento complementa e estrutura nosso desenvolvimento (WAGNER et al, 2002).
Elkind (1972) cita Piaget, argumentando que nessa fase do desenvolvimento, o indivíduo encontra-se no estágio das operações formais em que o jovem começa a construir opiniões próprias e contrariar os fatos, tendo assim seu próprio pensamento, construindo idéias e podendo raciocinar sobre elas; sendo nessa mesma fase e dentro do contexto familiar, a introdução espontânea de conceitos como credo, fé e entendimentos religiosos.
A fase crítica deste desenvolvimento tem início a partir da chegada da puberdade e o desenvolvimento das características sexuais secundárias, fase esta culturalmente denominada de adolescência. Segundo Calligaris (2000) a adolescência consiste em uma das mais poderosas formações culturais de nossa contemporaneidade. E, dentro desta formação cultural, generalizou-se o adolescente como aquele jovem que está passando por uma fase de conflito entre o deixar de ser criança e o não reconhecimento em ser adulto. Segundo ainda Wagner et al, o adolescente, em sua inquietude e ânsia de conhecer o mundo e seus prazeres imediatos, encontram dificuldades em enxergar ou atingir o equilíbrio entre o imaginário e o real e, neste ponto, a família torna-se fundamentalmente importante.
A família, então, tem aparecido, contemporaneamente, como uma instituição a partir da qual se pode utilizar como referencial para o desenvolvimento das crianças e jovens (SZYMANSKI, 2002).
O modelo nuclear de família que hoje conhecemos somente consolidou-se a partir do século XVIII (ARIÈS, 1978). Esta família “moderna” diferencia-se da família medieval por conter em sua constituição atitudes principalmente em relação às crianças. Se antes as crianças eram consideradas e vistas como pequenos adultos sendo muitas vezes tratadas como empregados, hoje, crianças e adolescentes possuem direitos garantidos em lei. Há deste modo, uma nova forma de intimidade entre pais e filhos (BRUSCHINI; RIDENTI, 1994). Ainda segundo estes autores, família é um grupo social dinâmico, em constante transformação devido a fatores socioeconômicos e demográficos.
A partir desta perspectiva, um novo perfil da família contemporânea do século XXI pode ser impresso. O ingresso da mulher e mãe no mercado de trabalho, o maior número de separações e divórcios, a produção independente, a divisão de tarefas entre o casal, compartilhando custos e aspectos referentes à educação de seus filhos entre outros constituem este novo perfil (WAGNER, 2005).
A família, assim, apresenta-se como a primeira instituição socializadora, como organizadora da sociabilidade das crianças e jovens como também dos laços emocionais entre seus membros constituintes (FORTE, 1996). Seus membros se unem pelo sentimento, o costume e o estilo de vida.
Segundo Colli (1983), a família exerce função marcante no processo de desenvolvimento da criança e adolescente, permitindo o estabelecimento de relações com outros grupos e instituições. Segundo ainda a mesma autora, deve-se considerar o nível econômico, grau de escolaridade, ocupação, habitação, relacionamento afetivo entre os pais como fatores que também fazem parte do mundo da criança e adolescente e influenciam em seu desenvolvimento. A mesma autora descreve, ainda, alguns aspectos da família, classificando os pais em:
Construtivos: são os pais que reconhecem e participam de todo processo de crescimento e amadurecimento de seus filhos;
Pais perfeccionistas: São os pais que se consideram perfeitos e que, assim, possuem a capacidade de planejarem a vida de seus filhos, não levando em conta os desejos dos mesmos.
Pais permissivos: pais que oferecem ao filho tanto facilidades econômicas quanto de responsabilidade.
Pais rígidos: pais autoritários que ao negarem ao filho o reconhecimento de seu crescimento, não proporciona a ele condições de aprendizado para o ingresso no mundo adulto. Acreditam que o filho é imaturo e incapaz, despreparado.
Pais que vivem através do filho: pais que transferem ao filho todas as expectativas dos desejos que não foram realizados por eles.
Pais destrutivos: são aqueles desinteressados e negligentes, promovendo uma situação de carência afetiva a seu filho, não dando suporte ao crescimento da criança e adolescente.
Pais ambivalentes: pais que apresentam dificuldades em lidarem a crescente independência de seu filho adolescente. Esperam bons desempenhos, mas ao mesmo tempo sempre consideram o filho como incapaz de bom desempenho.
Pais que se sentem fracassados: pais que se consideram rejeitados pelo filho, apesar de acharem que fizeram o melhor para ele.
Pais adotivos: são os pais que acham que, por ter recebido um lar adequado, o adolescente não tem o direito de questionar ou reclamar dos pais.
Pais em conflito: aqueles que apresentam dificuldades pessoais dos mais variados tipos e acabam transmitindo isso na relação com seu filho em desenvolvimento.
Ausência de pais: pais ausentes por morte, separação, abandono ou ausência de maneira figurada. Estes passam a ser substituídos eventualmente por outros familiares faltando, algumas vezes, ao adolescente aquele referencial e toda uma relação específica e necessária ao desenvolvimento.
Assim como os adolescentes vivenciam momentos de tensão entre a dependência em relação aos pais e a necessidade de se libertarem, os pais também têm sentimentos confusos. Essas tensões costumam levar a conflitos familiares, e os estilos parentais de criação podem influenciar suas formas e suas resoluções (PAPALIA, 2009).
Para Shaffer (2008), a família pode ser considerada nuclear, quando é constituída por uma mãe, um pai e um primeiro filho, sendo considerado como um sistema muito complexo, em vista que estão em um processo de influencias recíprocas (chamado de efeito direto), onde cada membro afeta e é afetado pelo comportamento dos demais. Um outro sistema de função parental é a coparentalidade, onde ambos os pais se apoiam mutualmente funcionando como uma equipe que “trabalha” cooperativamente. O mesmo autor cita a família extensa, onde pais e filhos convivem com outros parentes, como por exemplo, avós, tios ou primos, e que nos dias de hoje vem se tornando cada vez mais comum.
PAPALIA (2009) apresenta como estilos parentais o democrático e o severo-autoritário. O democrático consiste naquele no qual os pais exercem sua autoridade através de regras, normas e valores, mas estão dispostos a ouvir, explicar e negociar. Encorajam os filhos a formarem suas próprias opiniões e exercem controle apropriado sobre a conduta deles, mas não sobre seu senso de identidade. O severo-autoritário pode ser extremamente contraproducente na educação dos adolescentes, pois eles ao invés de seguir as regras, procurarão em amigos e colegas apoio para essa fase que estão passando. Na maioria das vezes, junto a essa “nova família” e em busca de aprovação, acabam por quebrar regras, negligenciar as tarefas da escola e seus próprios talentos.
Em torno do ritmo de desenvolvimento dos adolescentes rumo à independência, discussões entre eles e seus pais sobre o grau de liberdade que devem ter para planejarem suas atividades, seus horários tornam-se frequentes, resultando em uma atmosfera familiar estressante (PAPALIA, 2009). Os conflitos são mais brandos no início da adolescência, porém se intensificam no desenvolvimento deste período, diminuindo de frequência no final desta fase, já que ocorre adaptação às mudanças desse período e reequilíbrio do poder entre pais e filhos. Ainda segundo Papalia (2009), a situação de conflito depende, obviamente, da personalidade do adolescente e do tratamento que os pais os concedem. Alguns pais encaram de maneira natural essa fase, e outros encaram como um “pesadelo”. Se os pais agirem com afeto e demonstrarem apoio aos adolescentes, eles podem passar por essa fase sem grandes danos.
Para Papalia (2009), muitos fatores podem afetar a relação familiar (pais-filhos) durante a adolescência. Famílias em que os pais estão sobrecarregados pelo trabalho tendem a apresentar mais conflitos com os filhos. As mães mais sobrecarregadas tendem a ser menos carinhosas e acolhedoras, e os filhos tendem a ter mais problemas de comportamento. Muitas vezes a diminuição dos conflitos em família pode até ajudar no desenvolvimento do adolescente, mesmo em relação a seu próprio modo de enfrentar e resolver problemas. Eles se sentem mais competentes e mais independentes. Para tal, é importante haver um envolvimento por parte dos pais para melhor desenvolvimento dos adolescentes. Pais que sofrem perda de emprego ou baixa salarial tendem a se deprimir com mais facilidade, e acabam por se tornar negativos quanto ao papel de pais e em contra partida os filhos se sentem rejeitados e passam a se sentir deprimidos e a ter problemas escolares e de socialização. Em contrapartida, famílias que recebem apoio de familiares ou da comunidade, tendem a manter o tratamento afetuoso aos filhos e a ajudá-los a ficar longe de problemas.
Para verificar o real sentimento dos adolescentes com relação às suas famílias, uma pesquisa foi realizada com 31 adolescentes de 12 a 13 anos de uma escola pública de Santo André na qual revelaram suas opiniões sobre suas respectivas famílias. As perguntas englobavam frases para serem completadas com a primeira coisa que lhes viesse a cabeça. Foram elas: "Minha família é...", "Gostaria que minha família fosse...", "A relação com minha família é...", "Se pudesse mudar algo em minha família, mudaria....", "Minha própria família será..." e "Classifique de 1 a 10 sua relação com sua família". Pode-se perceber com as respostas dadas à pesquisa que aparentemente, as crianças se encontram felizes com suas famílias, definindo-as como legal, a melhor do mundo, perfeita, etc. Os adolescentes ainda definiram que ter uma família mais rica seria o desejo mais frequente, o que pode ser reflexo da realidade local onde a pesquisa fora efetuada; em contrapartida, pode-se também perceber o desejo dos indivíduos em ter uma família mais unida, mais liberal ou compreensiva levando-nos a acreditar que os adolescentes não carecem só de bens materiais, mas que também requerem amor e atenção e uma boa relação dentro de casa com os pais e a família. Quando indagados sobre sua futura família, a maioria das respostas dadas expressaram a vontade de ter uma família mais unida. Outros fatores como honestidade, felicidade e terem que batalhar demonstram que os desejos dos jovens entrevistados primam por valores morais, contrastando com o fator riqueza demonstrando dessa forma, que “ser rico” os ajudaria a obter status e bens materiais, mas que os valores morais ainda representam um índice superior nas opiniões dos jovens em questão.
Assim como os laços familiares podem extrapolar os limites de uma moradia, nem sempre as pessoas que moram na mesma casa constituem uma família. Casa e família não são a mesma coisa, mas essa separação não é evidente ao senso comum. Enquanto o domicílio é apenas uma unidade material de produção e de consumo, a família é um grupo de pessoas ligadas por laços afetivos e psicológicos.
Através da família a criança e o adolescente vão se desenvolvendo e se relacionando com outros grupos e instituições, e para tal deve-se considerar todos os fatores que possam influenciar esse desenvolvimento, tais como o nível econômico, grau de escolaridade, ocupação e habitação de suas famílias, entre outros. (COLLI, 1983)
Percebeu-se pelas respostas obtidas com a utilização do questionário, que os adolescentes em alguns momentos se sentem felizes e satisfeitos com suas famílias, mas que em outros, gostariam de possuir uma família diferente, como foi corroborado por Wagner et al (2002) ao refletir sobre a inquietude e ânsia que o adolescente possui, que o faz encontrar dificuldades em enxergar ou atingir o equilíbrio entre o imaginário e o real, tendo a família o papel fundamental na resolução desse impasse imaginativo.
Para Szymansky (2002) a família também pode ser considerada como a base na construção e introjeção de valores morais na contemporaneidade. Como visto através do questionário aplicado, pontos importantes para a construção das futuras famílias dos adolescentes entrevistados se baseiam em aspectos morais e não necessariamente financeiros, já que os aspectos mais relevantes se concentram em ser honesto, humilde e batalhar para obter coisas.
Ao tomar-se como base os aspectos que os jovens entrevistados gostariam de modificar em suas famílias, pode-se perceber que esses aspectos envolvem na maioria das vezes, fatores como brigas, discussões, grito e a falta de união. Fatores esses que juntamente com a perda de emprego ou a sobrecarga de trabalho sobre um dos membros principais da família, podem ser a causa dos diversos conflitos entre os pais e filhos adolescentes, resultando em uma atmosfera familiar estressante.
Deve-se lembrar que tanto crianças como adolescente são seres em desenvolvimento, e que uma das responsabilidades da família é prover esses indivíduos com oportunidades para que esse desenvolvimento ocorra de maneira saudável e completa. Cabe a família o papel de provedora e cuidadora desses jovens em formação.
Referências Bibliográficas
BRUSCHINI, C.; RIDENTI, S. Família, Casa e Trabalho. Caderno de Pesquisa, São Paulo, n.88, p. 30-36, 1994.
CALLIGARIS, C. A adolescência. São Paulo: Publifolha, 2000.
ELKIND, D. Crianças e adolescentes: ensaios interpretativos sobre Jean Piaget. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1972.
FORTE, M. J. P. O adolescente e a família. Pediatria, São Paulo, n.18, p. 157-161, 1996.
PAPALIA, D. E. Desenvolvimento Humano. 10ª ed. São Paulo: McGraw-Hill, 2009.
SHAFFER, D. R. Psicologia do desenvolvimento: infância e adolescência. 6ª ed. São Paulo: Cengage Learning, 2008.
SZYMANSKI, H. Teorias e “teorias” de família. In: CARVALHO, M. C. B. A família contemporânea em debate. 4ª ed. São Paulo: Cortez Editora, 2002.
WAGNER, A. et al . A comunicação em famílias com filhos adolescentes. Psicol. estud., Maringá, v. 7, n. 1, 2002.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=Kl_OBddnfwk