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O PAPEL DO ESPORTE E DO LAZER NO DESENVOLVIMENTO DO ADOLESCENTE

03-12-2010 10:12

 

 

        Entre as novidades gestadas na modernidade encontramos o contexto do lazer e do esporte, que têm sido adotados como auxiliares nas tarefas do desenvolvimento do adolescente. Porém, nem sempre foi assim. O Ocidente vislumbra, a partir do século XVIII , com o fenômeno da Revolução Industrial, uma nova forma de relacionamento entre as pessoas. Os camponeses, que até então viviam em contato direto com a natureza, um mundo onde não havia separação entre trabalho, convivência familiar e lazer, migram para o centro urbano industrializado. Ocorrem neste período grandes transformações, o tempo do trabalho artesanal realizado na família, em ritmo biológico, passa a ser o tempo em que o trabalho é realizado individualmente e no ritmo comandado pelas máquinas. É inaugurada a dicotomia tempo de trabalho – tempo de não trabalho. Com o fenômeno da computação o ritmo torna-se, então, frenético. As pessoas trabalham, assumem inúmeros compromissos, consomem, viajam em um ritmo acelerado.

        A adolescência é um período de transição, cuja duração não é claramente definida. É consenso, entre vários autores de diversas abordagens, que seu início coincide com o início da puberdade, mas seu final tem se estendido cada vez mais e muitas vezes nem se consegue perceber quando acaba. O corpo do adolescente é marcado por muitas transformações tanto físicas, hormonais, quanto comportamentais e psicológicas.  Neste período do desenvolvimento, o lazer é inserido com a preocupação de auxiliar no enfrentamento e na resolução de problemas sociais e pessoais. Os adolescentes podem variar muito e rapidamente em relação ao humor e comportamento: agressividade, tristeza, felicidade, agitação, preguiça e até a necessidade de isolamento são comuns neste período. É preciso conhecer estas transformações e dificuldades e, principalmente, os interesses de lazer do adolescente.

        A definição de lazer, também não é consenso entre os autores. Pode ser entendido como um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, para repousar, divertir-se, entreter-se... livrar-se das obrigações sociais, familiares e profissionais (DUMAZEDIER apud MARCELLINO 2000). Outra definição bastante próxima acrescenta à escolha livre do indivíduo condições de recuperação psicossomática e de desenvolvimento pessoal e social (REQUIXA apud MARCELLINO 2000). De qualquer forma, percebe-se nelas funções especificas como: função do descanso; função de divertimento, recreação e entretenimento; e função de desenvolvimento.

        Segundo a teoria dos estágios de desenvolvimento proposta por Piaget, o adolescente se encontra no estágio das Operações Formais (dos 11 ou 12 anos de idade em diante). É neste estágio que o sujeito começa a raciocinar de forma lógica sobre processos hipotéticos, caracterizando o pensamento hipotético-dedutível, ou seja, seu pensamento não se encontra necessariamente vinculado ao que é factual, como no caso dos sujeitos que se encontram no estágio anterior (Operacional Concreto). O estágio operacional formal proporciona o caminho para “pensamentos sobre as possibilidades de vida, formação de uma identidade estável e compreensão mais rica sobre as perspectivas psicológicas de outras pessoas e as causas para seus comportamentos” (SHAFFER, 2005, p 240), além da possibilidade de tomada de decisões pessoais e compreensão das possíveis consequências para si e para os outros.

        Para Vigotsky é através da interação social que o ser humano aprende, se desenvolve e cria novas formas de agir no mundo.  As características e até mesmo as atitudes individuais estão impregnadas de trocas com o coletivo, ou seja, aquilo que tomamos, por mais individual de um ser humano, foi construído a partir de sua relação com o indivíduo. A emoção e afetividade da cognição não podem ser separadas, estas são características interrelacionadas de grande importância para o desenvolvimento do indivíduo.

        Já para Wallon, a adolescência é a fase qual emerge um novo corpo, e o indivíduo necessita apropriar-se dele. Nesta fase, externalizações exageradas, como tom de voz elevado e muita movimentação, são comuns, pois ajudam o adolescente a compreender as mudanças causadas pela puberdade. Nesta fase do desenvolvimento, existe uma predominância da dimensão afetiva da personalidade, tornando-a mais intensa. Uma das características mais marcantes desta fase é a ambivalência de atitudes e sentimentos resultantes do desequilíbrio interior. Esta ambivalência faz surgir necessidades como conquista, independência, necessidade de ultrapassar os limites cotidianos, surpreender e se unir a outros jovens que pensam da mesma maneira. O grupo é de suma importância para ambas as teorias, pois assim como para Vigotsky, as relações dialéticas com a cultura e com os indivíduos constroem o self e as funções mentais superiores.

        Adolescentes de distintas épocas, lugares e ambientes sociais procuram constantemente dar as suas ações um estilo de vida que lhe seja peculiar, estilo este muitas vezes caracterizado pela inovação e pela negação dos valores considerados tradicionais. Percebe-se nos jovens a necessidade de fazer parte de um grupo. As amizades são importantes e dão aos adolescentes a sensação de pertença.

        O lazer assume, nesse sentido, um contexto de possível realização destas expectativas, atrelado aos valores e significados que influenciam e são influenciados pelo modo de vida deste jovem em sua cultura mais ampla. Assim, estar atento às distintas formas de uso e apropriação do tempo livre do adolescente é de grande importância para reflexões sobre o comportamento do jovem na sociedade da qual faz parte. O estudo do lazer pode ser considerado um meio de se ter acesso às informações sobre a cultura jovem.                                                                                 

        O período de lazer é fundamental para o desenvolvimento do jovem, auxilia tanto o físico como o social, proporciona o alívio das tensões individuais devido aos problemas sociais. É um elemento de integração com outras pessoas e possibilita o desenvolvimento de seu repertório cultural. Pode desencadear consequências positivas ou negativas.Tem função positiva, quando é capaz de favorecer o equilíbrio emocional, estimular a realização do self, influenciando no alto conceito e reafirmar de bons hábitos. Sua função se torna negativa, quando este tempo é aproveitado de forma não adequada para a sociedade.          

        Juntamente com o lazer, a prática do esporte também é uma atividade que ganha nova conotação na modernidade. As competições esportivas acompanham o desenvolvimento da humanidade. Já na Grécia antiga, os jogos olímpicos agregavam diferentes nações e diferentes indivíduos.

        A prática de esportes é importante para um bom desenvolvimento físico, já que contribui para o equilíbrio da ingestão e do gasto de calorias e para diminuir a predisposição a doenças. Além disso, estimula a socialização e eleva a auto-estima do sujeito, podendo também servir como um “antídoto” natural de vícios. A prática de um esporte proporciona benefícios também no desenvolvimento moral e na formação do caráter do adolescente, além de exigir responsabilidade para com o grupo, pois pede o cumprimento de regras e entendimento de relações de causa-consequência, o que é fundamental, pois muitas vezes, quase não existem restrições aos adolescentes da atualidade.

        Outra contribuição importante do esporte é o preparo do jovem para situações que envolvam frustração, situações estas que ninguém escapa de enfrentar. É na derrota ou ao ser preterido para o time, por exemplo, que o jovem experimenta este sentimento, e a prática do esporte possibilita que o enfrente de forma saudável, sem recorrer a uso de drogas (lícitas ou ilícitas).

        A escolha da atividade física deve considerar dois aspectos: a aptidão física e o interesse pessoal. O adolescente, ao ser chamado a praticar esportes que exigem condições físicas não adequadas ao seu nível físico e que não fazem parte de sua área de interesse, pode estar fadado ao insucesso e, consequentemente, à frustração.

        As diversas modalidades de esporte possibilitam desenvolvimentos mais específicos diferentes uma das outras. Os esportes coletivos (como futebol, vôlei, basquete, pólo aquático e outros) proporcionam o desenvolvimento da cooperação, organização de espaço e tempo, solidariedade e divisão de metas e funções. Os individuais (como natação, tênis, lutas em geral, atletismo e outros) estimulam a auto-confiança, responsabilidade, independência e percepção corporal (posição, deslocamento, equilíbrio, peso e distribuição).

        Nas últimas décadas aumentou consideravelmente o número de crianças e adolescentes matriculados em escolas de iniciação esportiva, de dança, de musculação e de outras atividades extras curriculares, de acesso restrito a uma classe social, que satisfazem às necessidades familiares de ocuparem o tempo de seus rebentos. A prática esportiva, em alguns casos, passa a ter um caráter consumista e desvinculado da real possibilidade de desenvolvimento integral do adolescente.

        Porém, o que se percebe na sociedade pós moderna, consumista e midiática, é que para alguns adolescentes a prática do esporte e do lazer não é efetiva. Pinto (1997) adota o termo “Deficiente Social” para os que indivíduos que por força sócio-político-cultural não desfrutam de seus direitos assistidos por lei. Diante do cenário de exclusão o Estado cria diretrizes, como o Eca, para resguardar os valores que compõem o desenvolvimento de potencialidades globais. Embasados por essas leis grupos preocupados com o desenvolvimento pleno dos adolescentes criam atividades de reposicionamento social, geralmente essas atividades são esportes (dança, capoeira, futebol), ou seja, atividades que alinham o ser biológico ao ser social. Assmann afirma que somente uma teoria do corpo pode fornecer qualificação para uma vida social produtiva.

        Neste contexto, a escola é um lugar privilegiado para a prática de atividades prazerosas, capaz de proporcionar atitudes sadias que estimulem as potencialidades e habilidades do adolescente.

    Porém, em qualquer que seja o local determinado para o exercício das práticas esportivas e de lazer, é fundamental a participação e o acompanhamento dos pais nas atividades, mas com o cuidado devido para que não ocorram cobranças de performances, além daquelas que são adequadas ao desenvolvimento físico e da área de interesse do adolescente.

 

Autores: Caroline Oliveira, Joan Gesueli, Juliana Lopes, Maria Regina Conte, Neliane Bettiol e Sara Redivo

REFERÊNCIAS: 

ALMEIDA, C. M. H.; TAGLIARI, I. A. Atividades costumeiras dos adolescentes no tempo livre de um colégio na Mangueirinha-PR. Disponível em: <https://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/1625-8.pdf?PHPSESSID=2010012508181580> Acesso em: 11 nov 2010.

ANTEGHINI, M.R. A importância do esporte na adolescência. Disponível em: <https://www.afinidades.com.br/servicos/direitos/AImpotanciaDoEsporte.htm> Acesso em: 01. Nov. 2010.

ANTUNES, A. D. A importância do esporte da adolescência. Disponível em: <https://www.chacaraklabin.com.br/colunas/colunas.asp?n_colunista=25&coluna=2> Acesso em: 25 set 2010.

ASSMANN, H. Paradigmas educacionais e corporeidade. Piracicaba: UNIMEP, 1994.

BRANDÃO, M.R.F, MACHADO, A.A., Coleção Psicologia do Esporte e do Exercício, Vol 1 Teoria e Aplicação, São Paulo, Atheneu, 2007.

FISBERG, M.; PRIORE, S. L.; VIEIRA, V.C.R. A atividade física na adolescência Disponível em: <https://ral-adolec.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-71302002000100007&lng=es&nrm=iso> Acesso em: 06 nov. 2010.

GASPÁRI, J. C.; SCHWARTZ, G. M. Adolescência, Esporte e Qualidade de Vida. Disponível em: <https://www.rc.unesp.br/ib/efisica/motriz/07n2/gaspari.pdf> Acesso em: 25 set 2010

MAHONEY,A. A; ALMEIDA, L. R.(org). Henri Wallon. Psicologia e Educação. São Paulo, Ed Loyola,2009.

MARCELLINO, N.C.N.  Lazer e Humanização, 4ª ed Campinas SP, Papirus, 2000.